segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A liberdade do Professor

Homem que engana, manipula e assedia mulher: não importa se é de esquerda. Não é meu companheiro de luta.


(TW: heterossexualismo, piv, sexo hétero, prostituição)

Se você não sabe do que se trata esse post, leia aqui e aqui primeiro.

Eu convivo com muitos homens "feministas". Eu vou descobrindo, aos poucos, que eles não são tão legais assim. Não que eles pisem na bola de vez em quando: eles pisam sempre. Sempre chega algo no meu ouvido: "fulano gosta de novinha", "fulano forçou a barra com fulana", "fulano traía fulana", "fulano obriga fulana a aceitar relacionamento aberto".

Por muito tempo eu me esforcei absurdamente pra desconstruir monogamia. Me sentia culpada de sentir ciúmes, de estar num relacionamento fechado, de não ser livre o suficiente. Eu entrei num grupo chamado "Rli Belo Horizonte".

Um dia, um cara já famoso por ser escroto com mulheres, postou uma imagem com os seguintes dizeres:
"Com tanta coisa pra dar, você vai dar uma de difícil?"

E aí começou minha desconfiança de que não havia segurança num ambiente em que eu não poderia dar uma de difícil, já que tenho vagina e ânus pra dar. Com dois buracos pra dar, por que eu daria uma de difícil? Haha.

Na medida em que o "poli", como o I****** fala, se constrói, a amiguinha responsabilidade fica pra trás. E o respeito também. E o bom senso. A gente começa a esquecer que as pessoas com quem nos relacionamos (em especial mulheres) são humanas.

Libertação sexual na esquerda tem significado as mulheres abrirem as pernas pra qualquer um (falo qualquer um porque a libertação sexual das bissexuais e lésbicas ficou pra trás e esquecida em meio à fetichização e lesbofobia). E isso ser considerado muito bonito, libertador, e ai de quem achar feio que é moralista.

O problema é que enquanto as mulheres acham que estão se divertindo, se libertando, as vezes, de um relacionamento já abusivo com o marido/namorado atual etc, os homens as exploram.
Eu já vi homens falarem que fazem questão de namorar feministas. Por que? Nós somos mais tolerantes? Acho que não. Nós somos é mais livres, mais mente-aberta, queremos nos libertar dessa cultura que fala que fazer sexo anal é rebaixar a mulher (novos estereótipos feministas: de lésbicas peludas à mulheres que dão o cu e fazem suruba. Sinto saudades do primeiro). E aí você luta pra não ser chamada de puta na rua, mas tem um cara que está transando com você te chamando de puta pra "te excitar". E você se excita, porque a puta é livre, né? Não. Porque o cliente da puta a explora, e esses homens exploram mulheres também. Não é só uma palavra quando o cara realmente te trata como uma, te explora como uma, te manipula como uma. Não é só uma palavra quando ele te domina.

Essa discussão importa porque hoje em dia (eu tenho 20 anos e já estou sendo obrigada a usar essa expressão) um homem que: mantém inúmeros casos com mulheres casadas, as prefere porque assim não precisa assumir responsabilidades; as coloca em situação de risco com homens violentos; engana a parceira atual; etc, é visto como apenas um homem heterossexual flertando e desconstruindo monogamia.

E se você é uma mulher formada, inteligente, feminista, casada, e caiu na teia de manipulação desse cara, bom, a culpa é sua, né? Você que estava tentando se libertar. Se achou ruim, por que não pulou fora?

Bom, quando você passa tanto tempo sendo ensinada que transar com um cara que te trata feito lixo e fala que pode meter em você de tal a tal hora é ser livre e subversiva, você passa a acreditar. Quando você percebe que gosta do cara e que se não transar com ele, outras vão, você acaba indo, porque ganhar migalhas é melhor que nada quando se é mulher. É assim que a gente aprende. E aí o que era pra ser uma libertação sexual se torna sua cruz e quando você assusta, você está apaixonada por um cara que não te assume, te trata mal, te vê como objeto "puta", e se você não der pra ele, você sabe que vão ter outras pra ele comer. Porque ele faz questão de te falar. Afinal, ele é poli. É um cara disputado.

O caso do I****** não é o primeiro, nem o último. Esse padrão de manipular e enganar mulheres usando amor livre/poli/rli como escudo é tática antiga. Ele começou com isso em 2005. Até hoje chegam mulheres me contando que foram manipuladas por homens que consideram liberdade poder mexer com a cabeça de uma mulher o quanto quiser, transar com ela e ter zero responsabilidade quando a casa cai, ou em qualquer momento.

O que eu quero dizer é: é ok dizer "não". Pra não monogamia, pra qualquer tipo de sexo, pra sexo em si, pra relacionamentos que não são sérios. É ok querer ser tratada bem. É ok achar que sua liberdade não envolve esse tipo de situação, e eu espero que as mulheres lendo isso não percam o tempo que perdi me machucando e me culpando porque eu não queria ter um relacionamento "livre". Mal sabia eu que o choro que eu tinha, achando que estava sendo possessiva, egoísta, blablabla, amor sem posse, sem poder, etc, era uma própria gaiola feita de culpa.

Se liberdade for significar ser tratada "como puta", eu passo. Eu não sou puta, e nenhuma de vocês é.

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