sábado, 11 de maio de 2013

Menos misoginia, mais amor e sororidade


Criticar o feminismo (e qualquer movimento social) é essencial para que ele cresça e seja cada vez mais inclusivo. Acredito que muitas vezes quando um movimento cai nas mídias e mais pessoas fazem parte dele, começa uma espécie de telefone sem fio.

O que me preocupa obviamente, além das pessoas feministas, são as pessoas que flertam com o feminismo, concordam com muitas das ideias mas não se dizem feministas por qualquer motivo que seja. Muitas vezes as mulheres que são desse time, são mulheres de personalidade forte, com muitas opiniões, que falam o que pensam. Muitas delas são adolescentes, jovens mulheres rockeiras, skatistas, punks, enfim. São mulheres fora dos padrões rígidos da mulher silenciosa, delicada, prendada e "feminina" na aparência.

Elas começam se identificando com discursos que enfatizam o quanto estão cansadas de se sentirem sozinhas, sem amigas, simplesmente por terem opiniões e não gostarem de maquiagem e assuntos ligados ao que o patriarcado chama de "universo feminino". São chamadas de lésbicas, sapatonas, são mulheres que precisam lavar uma louça e de um bom chá de pica. Elas buscam apoio nas mulheres mais dentro do padrão e estas estão mais preocupadas com namorados e um mito da beleza que as consome, a ponto de não conseguirem olhar por suas irmãs diferentes. Essas mulheres fora do padrão tem sua misoginia alimentada. E aí dizem o que muitas de nós um dia já dizemos:
  • Amizade com homens é muito melhor
  • Amizade com um homem vale mais do que com duas mulheres
  • Mulheres são fúteis (mas eu sou uma exceção)
  • Mulheres só querem saber de macho (enquanto eu penso em pizza, música, carreira etc)
  • Assunto de "mulherzinha"
A falta de sororidade (irmandade, companheirismo e união) entre mulheres culmina em misoginia e culpabilização da vítima. O que a mulher fora dos padrões de feminilidade não percebe é que do mesmo jeito que ela não tem culpa de ser chamada de nomes e ser tida como chata, a sua irmã não tem culpa de ser pressionada a ser essa "boneca" que faz o que homens querem ver. Ela não tem culpa de ceder a essa pressão, porque, como a própria mulher fora dos padrões sente na pele, não é fácil ser transgressora.

Assim, cria-se um mito de que a mulher estereotipada e dentro dos padrões é burra e fútil, quando ela é uma vítima do patriarcado, que a ensina (erroneamente) que ela precisa de um homem em sua vida, e que para isso ela precisa estar dentro dos padrões de beleza. E, hoje em dia, ela é ensinada que para que ela se sinta bem consigo mesma, mesmo estando solteira, ela também precisa estar dentro de determinados padrões de beleza e comportamento. Cria-se o mito de que para mulheres o "amor" é mais importante do que a amizade, então todas as outras mulheres são rivais que podem lhe tirar a chave para a felicidade (um homem).

Enquanto isso, a mulher fora dos padrões faz amizade com homens, supostamente "sem frescura", rindo das mulheres consideradas burras e superficiais, sem saber que, para seus amigos, ela é mulher, portanto, em algum momento, ela também será alvo dessa misoginia. Não cabemos em caixinhas de estereótipos e uma hora essa mulher demonstrará uma fraqueza, cometerá algum deslize. Seus amigos a chamarão de "mulherzinha". Vão perguntar se ela quebrou uma unha, vão tentar diminui-la por ser mulher. E ela vai se odiar e odiar ainda mais as outras.

Sem sororidade, mulheres aprendem a odiar umas as outras, sem perceber que estão sendo manipuladas pelo patriarcado.

Já passou da hora de lembrarmos que é possível ter opiniões e convicções fortes, ser inteligente e independente e, ainda assim, gostar de elementos associados ao feminino (como cabelo, maquiagem, moda etc). É simplista demais encaixotar mulheres em estereótipos limitadores. Não existe nada de errado em se identificar com esses estereótipos, mas sim esperar que mulheres estejam sempre cabendo em rótulos, quando são seres humanos complexos, contraditórios, mutáveis.

Um dos objetivos do(s) feminismo(s) é que todas as mulheres sejam livres para serem como quiserem (sempre tendo noção de todas as possibilidades que elas, como seres humanos, tem à sua frente, não só as que o patriarcado oferece). Desconstruir estereótipos de gênero não significa diminuir, humilhar ou desqualificar aquelas que estejam presas a eles.

Não é feminismo se você ri e julga sua irmã que está dentro de padrões patriarcais de comportamento. Não é feminismo se você aponta o dedo para mulheres e as chama de "fúteis". Não é feminismo se você julga e desvaloriza os sentimentos e experiências da sua irmã, porque ela não é como você.

Não é justo que só você seja livre. Liberte sua irmã. 


3 comentários:

  1. Esse texto aparaceu na minha TL agora e eu apenas queria compartilhar que estou muito apaixonada por ele. MUITO MESMO. Obrigada por escrevê-lo, Carol! *.*

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  2. Bonito o texto, simples e direto! Espero que atinja muitas pessoas que estão em dúvida, que meninas pensem mais na sororidade ao invés de perderem a oportunidade de construírem e lutarem juntas!
    Abraços

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  3. Carreguei uma misoginia internalizada em mim durante um bom tempo. E acredito que muito do mito da competitividade feminina tem a ver com o fato de que somos criadas para não só odiar as outras, mas odiar nós mesmas. A gente aprende desde muito cedo que ser mulher é ser inferior, justamente por ser xingada de mulherzinha e ouvir coisas como "nossa, o cara ali perdeu pra uma mulher". A nossa autoestima horrível faz com que a gente queira se sentir única/especial e achar que todo aquele ódio de mulher é destinado somente pras "que mereçam", ou algo assim, sabe?

    Lembro que eu gostava de certas coisas ditas femininas, mas me afastei delas, neguei elas até me sentir livre pra gostar delas sem me sentir fútil ou idiota. Uma libertação que o feminismo me trouxe e sou grata.

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