quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Resenha: The Purge

purge  (pûrj)
v. purgedpurg·ingpurg·es
v.tr.
1.
a. To free from impurities; purify.
b. To remove (impurities and other elements) by or as if by cleansing.
2. To rid of sin, guilt, or defilement.



Sou uma grande fã do Halloween. Fico muito empolgada justamente por ser um dia dedicado ao horror, ao susto e à fantasia. Mal sabia que poderiam criar um dia que fosse ainda mais instigante e assustador. 
Assisti na tarde deste dia 31 ao filme The Purge, cujo título em português é ridículo demais para merecer citações. A história se passa em 2022, nos Estados Unidos. O crime é praticamente nulo e violência não é nem de longe um problema para o americano de bem. Exceto por uma noite. Segundo especialistas, o ser humano é naturalmente violento e incontrolável, e precisa liberar toda os seus sentimentos como ódio, rancor e frustração através da violência pelo menos uma vez por ano, já que somos forçados a viver civilizadamente. Assim, no dia 21 de Março, durante doze horas, todos os crimes (incluindo assassinato) deixam de ser punidos, bem como qualquer assistência policial ou médica poderá ser ofertada. 

Os ricos passam o ano se preparando para proteger suas famílias e residências com equipamentos de seguranças caríssimos, enquanto os pobres contam com a sorte e geralmente são as vítimas daqueles que desejam "purificar-se" através da violência. 

Essa premissa me pareceu genial! confesso que tive um bocado de preguiça do começo da história, que retrata um membro importante de uma companhia de equipamentos de segurança e sua família. É um grande retrato da família americana de classe alta perfeita. Mas o desenrolar do filme deixa claro que essa é justamente a intenção, satirizar a nossa sociedade contemporânea comparando-a com uma futurista. 

Trata-se de um suspense, não de terror, mas me serviu muito bem num Dia das Bruxas em que poucos filmes de horror me prendem ou me dão medo. The Purge me deixou alerta e tensa do começo ao fim com roteiro excelente, personagens convincentes (tirando o Patriarca (que inclusive o chamo assim porque age como tal, o que é bem irritante) e a filha mais velha) e, em especial, a ideia de que aquela realidade não é tão distante. 

Durante a trama alguns questionamentos são levantados. É fato que desde que o "Purge" foi instaurado, a economia americana melhorou e o crime caiu para quase zero. No entanto, não fica claro o motivo para tal: será pelo ser humano estar satisfazendo seu desejo natural por sangue ou por ricos estarem eliminando os pobres e "improdutivos"? Situação semelhante já ocorre no Brasil, em que políticas higienistas são aplicadas em bairros nobres, com a retirada compulsória de moradores de rua. O mesmo acontece nas favelas e morros, onde a polícia mata e tortura indiscriminadamente. Em The Purge, o personagem que é morador de rua e vítima das pessoas que desejam matá-lo é negro: um retrato da nossa sociedade racista, classista e higienista atual.

Inúmeras vezes este mesmo personagem é chamado de porco sujo, e dizem que a função dele é apenas morrer, já que é uma pessoa socialmente inútil. O discurso não é muito diferente do que vemos por aí em alguns núcleos. 

O grande teor filosófico do filme é a maldade humana. Ela é, afinal, inata? O filho mais novo, Charlie, é contra o período de violência desde o começo e sempre mantém esse ideal firme, enquanto a crueldade e frieza de outros personagens adultos nos impressionam durante toda a trama. 

Minha crítica a The Purge se refere apenas ao fato de ser o tipo de roteiro que possui vários finais, daqueles em que você pensa que é hora de rolar os créditos mas se surpreende. Pessoalmente, acho o modo como o recurso foi explorado no filme bastante negativo. Preferia um final mais clichê!

Assisti sozinha, mas acho que funciona em qualquer instância. De luz apagada o suspense é maior.

Dica: ótimas ideias para fantasias de Halloween em The Purge.

Máscara + facão + vestido branco respingado de sangue

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Construindo sororidade

Sororidade é apoio mútuo, compreensão e irmandade entre mulheres. Parece um conceito simples que deveria existir desde as melhores amigas do jardim de infância, mas fomos ensinadas que mulheres são invejosas e traiçoeiras. Ficou muito difícil enxergar outras mulheres como irmãs.

Mesmo dentro da luta feminista, na minha perspectiva pessoal percebo que muitas questões básicas ficam para trás. Lembro quando a Gizelli me mostrou a palestra no TED sobre feminismo, feito por Tavi Grevinson, uma garota de 17 anos e que já tem uma revista, a Rookie Mag. Nessa palestra, Tavi mostra no slideshow um desenho seu que gostaria de nunca ter esquecido:


Feminismo não é um livro de regras! Feminismo é uma discussão! Uma conversa! Um processo!

Feminismo é uma conversa. Sororidade também. Se feminismo é construído aos poucos, com interseccionalidade, discussão e troca de experiências o mesmo deve acontecer com a sororidade. Feminismo é um processo. Irmandade e compreensão são processos, como sororidade.

Se atitudes inerentes a algumas mulheres são feministas, muitas atitudes inerentes a alguns grupos de mulheres (como, por exemplo, proteger umas às outras de opressores) são atitudes cheias de sororidade. O problema é que não se deve permitir que sororidade seja só o que carregamos conosco desde sempre. Sororidade deve ser construída, aperfeiçoada, trabalhada, para que não se restrinja à experiências de vida não-interseccionais. 

É natural que nos identifiquemos melhor com mulheres semelhantes a nós: de nossa mesma classe social, cor da pele, etc. É normal, mas não é aceitável que a luta siga dessa forma. Feminismo e sororidade não andam juntos sem empatia. E, pessoalmente, não acredito que o feminismo siga em frente sem apoio mútuo entre mulheres. 

"Eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor.": a ideia do apoio mútuo, em que as mulheres fortalecem umas às outras e se empoderam ao mesmo tempo. Isso não pode ser feito se não houver reconhecimento de opressão e privilégios. Por exemplo: eu, como mulher branca, cis e de classe média, devo reconhecer que sou privilegiada diante de uma mulher trans* negra e pobre, e devo ter empatia por ela. Ainda que eu discorde de alguma de suas falas, eu a respeito, pois tenho empatia e reconheço as relações de poder que existem entre nós. Isso não significa calar-se diante de discordâncias, mas sim lembrar que antes de existir uma pessoa que está falando algo que você não concorda, existe uma mulher com infinitas complexidades diante de você.
"Sermos mulheres juntas não era o suficiente.  
Éramos diferentes.
Sermos garotas homo juntas não era suficiente. Éramos diferentes.  
Sermos negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes.  
Sermos mulheres negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes. 
Sermos sapatas negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes. 
Levou um tempo para percebermos que nosso lugar era não a segurança de uma diferença em particular, mas a própria casa da diferença." - Audre Lorde

Em resumo, a ideia é não permitir que sororidade seja um conceito cômodo que signifique que somente mulheres, brancas, cis, de classe média ou instruídas mereçam apoio. Expandir o sentimento de irmandade e solidariedade entre mulheres a todas as mulheres, não só aquelas com quem você convive. Muitas vezes é difícil enxergar além do nosso mundo particular (frequentemente repleto de privilégios) e isso também se acontece dentro de contextos libertários. 

Sororidade não é uma obrigação, e nenhuma feminista vai conseguir praticar sororidade com todas as mulheres do mundo. Mas é um exercio que pessoalmente recomendo, porque me foi de crescimento pessoal muito grande, e ainda tenho muito o que aprender, assim como todas nós temos. como o feminismo é sempre um processo e sempre uma conversa, nós nunca vamos parar de aprender e crescer umas com as outras.

E não existe 
coisa mais linda do que isso. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Depois de Fran



Se me dissessem que a língua dói mais que um punho alguns anos atrás eu não acreditaria. Hoje, com a tecnologia e quase nenhuma privacidade no mundo moderno, acho que mesmo um vídeo dói mais que a palavra e o punho.

Mais um caso de uma agressão psicológica por meio de uma filmagem. Um boquete. A palavra cu. Boca que todo mundo tem, cu que todo mundo tem, pau que metade do mundo tem. Um boquete que todo mundo já fez ou já ganhou. Um cu que todo mundo já viu. Mas a dor não é de todo mundo, a dor é da Fran.

Fran é uma moça maior de idade que confiou num cara. Ele a traiu. Ela lambeu o pau do sujeito e ele se achou no direito de expor isso para o mundo, porque afinal, se ela fez sexo com ele, ela merece ser apedrejada por palavras hostis e humilhações. Vou morrer sem entender o que se passa na mente de um cara que vê sexo dessa forma. 

Todas nós fomos Fran um dia. Quase todas nós olhamos pra uma câmera e lambemos um pau, ou mandamos uma foto dos nossos peitos; todas nós confiamos, porque nos disseram que os homens não são todos iguais. Fran não teve a minha sorte e talvez não a sua. 

Fran está sendo humilhada por querer sentir e dar prazer. Por ser humana. 

São poucos os filmes que me deixam parada no mesmo lugar depois de terminar. Um deles foi Depois de Lúcia, que conta a história de uma garota que sofre bullying na escola depois ter um vídeo dela fazendo sexo divulgado na internet. Nada acontece com o rapaz que ligou a câmera do celular, mas ela é espancada, humilhada, estuprada e até mijam nela. Porque ela trepou na frente da câmera. Simples assim. 

A história em Depois de Lúcia é a história de Fran. É a história de Amanda, de Cláudia, Luciana, Regina, Ana, Rebeca, Júlia, Laura. As mulheres humilhadas por serem humanas e treparem na frente de uma câmera têm mil nomes e a mesma história de confiança quebrada. Cada uma delas poderia estrelar um filme sobre a sua dor e as consequências devastadoras dessa exposição em suas vidas. 

Ninguém sabe o nome do dono daquele pinto no vídeo. É engraçado como os homens que participam do sexo não são culpabilizados porque afinal, "homem é assim mesmo". Homem gosta de sexo, né? Mulher não. Homem gosta de comer cu, mas mulher não gosta de dar e, se gosta, é puta e merece ser apedrejada.

O direito de existir como um ser complexo que sente tesão e que quer sim dar o cu e fazer um boquete não existe para a mulher. Não existiu para Alejandra em Depois de Lúcia e não existiu para Fran. O que mais me entristece é ver que por mais que essa mesma história de humilhação e desrespeito seja recontada, mais mulheres como Fran vão aparecer: destruídas por terem confiado em alguém o suficiente para apertar o REC. 

Chega de punir mulheres por serem sexuais, por terem desejos e vontades. Por gostarem da câmera e gozarem com ela. Já passou da hora de aprender. 

domingo, 13 de outubro de 2013

Resenha: Bling Ring


Depois de esperar por tanto, tanto tempo, assisti Bling Ring: digirido por Sofia Coppola, com Emma Watson e Taissa Farmiga, não era o tipo de filme que eu poderia deixar passar. Sou fã da Sofia Coppola desde Virgens Suicidas e poucas coisas me deixam mais irritada do que o excesso de criticismo que a diretora recebe simplesmente por não seguir uma determinada linha de direção.

Bling Ring parece loucura, mas não é. Um grupo de amigos começa a entrar na casa de celebridades como Paris Hilton, Lindsay Lohan e Orlando Bloom. Lá, experimentam roupas e roubam algumas peças, sapatos e jóias, mas nunca o suficiente para serem notados. Obviamente, em algum momento tudo daria errado e o esquema cairia por terra. Esse roteiro sensacional nas mãos de Sofia Coppola era o que eu esperava mais em 2013.

A história começa por Marc, um adolescente um inseguro que acaba de se mudar e todos na sua nova escola o tratam mal. Rebecca é a única do colégio com o rapaz se dá bem e logo tornam-se melhores amigos. Com ela, Marc começa a entrar em mansões de famílias que estavam viajando para roubar dinheiro e alguns pertences que não fazem muita falta. Um dia, eles se arriscam e experimentam tentar entrar na casa de Paris Hilton: para a surpresa dos amigos, a celebridade deixava a chave de casa debaixo de carpete e eles puderam simplesmente entrar e vasculhar sua casa e, em especial, seu guarda-roupas.

Rapidamente outros amigos se envolvem e isso se torna um hábito: começa a tal Gangue de Hollywood do título brasileiro.

A premissa do filme é uma grande interrogação: existem muitas possibilidades cinematográficas diante do caso de Bling Ring e Sofia escolheu uma inusitada. Ela não aposta num documentário judicial ou mesmo num drama meloso sobre drogas e festas arruinando a juventude. Coppola juntou as faces mais queridas da América e as expôs novamente mostrando ao mundo quem a mídia está formando. Quem são os jovens que acompanham os passos de Lindsay Lohan? Quem são as garotas que querem ter o closet de Paris Hilton? O quão longe elas irão por isso? O que separa o expectador (que se pega invejando a caixa de Rolexes de Orlando Bloom e gostaria de também experimentar um vestido Chanel) do caso real de Bling Ring? 

Afirmo sem medo (mas falo somente por mim, obviamente) que Sofia Coppola é uma das poucas pessoas tão contumazes e delicadas ao fazer críticas à superficialidade e efemeridade do mundo moderno. É muito fácil cair em clichês sensacionalistas e manjados que só serviriam para serem exibidos em aulas de história. O que Sofia faz é envolver o espectador, mostrar que ele também faz parte desse mundo e que ele possui parte da responsabilidade. Ao mesmo tempo, ela não o demoniza.

Existem muitas cenas em que os adolescentes vão vasculhando os closets das celebridades e experimentam roupas, encontram jóias, dinheiro, drogas, fotos pornográficas. Como desde o início do filme fica claro que em algum momento o grupo é preso pela polícia, essas cenas são estranhamente tensas mas ao mesmo tempo gostosas de se assistir. É como se fôssemos um deles, dentro da casa de Paris e, secretamente, gostaríamos mesmo de ser.

O mundo de luxo que é retratado não é ruim. Ele é prazeroso, e todos nós sabemos disso, e é justamente aí que mora o problema. Todos nós entendemos quando Rebecca passa um batom de Paris e se olha no espelho do closet que não era seu: ela estava onde queria estar, mesmo que fosse por um minuto. Efêmero como todo o materialismo do século XXI. 

O estilo de vida que nos é vendido e que geralmente não está ao nosso alcance é vazio e supérfluo. Pode ser roubado por um grupo de adolescentes a qualquer momento. E talvez seja por isso mesmo que gostamos tanto dele e não queremos abrir mão desse luxo.

Dois detalhes que merecem destaque em Bling Ring:
Trilha sonora - de todas as músicas, a que mais me marcou foi Bad Girls, da M.I.A., porque traz um bocado do momento que os amigos do filme estavam vivendo. 
Nicki - personagem da Emma Watson, que é uma moça muito cínica e cara de pau. Praticamente aplaudi em frente ao computador em algumas cenas por causa dela!

No mais, me arrependi apenas de ter assistido Bling Ring antes de ir passar um fim de semana de Boa Moça com meus pais, sem uso de álcool de substâncias ilícitas. :(

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Corpo perfeito pra gritar: CHEGA

Aqui ninguém fala mal de nenhum tipo de corpo.
Aqui todos os corpos são amados e celebrados.


Não é de hoje que vemos a indústria da beleza massacrar a autoestima das mulheres (de todas as mulheres, vejam bem) para vender. E, para minha surpresa, ela vai mais longe a cada dia.

Para desde a ponta dos pés até os fios dos cabelos, existe um produto que promete uma versão melhorada das mulheres e também adolescentes. Se seu gênero no Facebook está marcado como feminino, é comum ver anúncio de emagrecedores, "dicas estranhas", "métodos antigos" para perder peso. As imagens que ilustram essas publicidades vão desde vítimas reais de anorexia até ovos podres. 

Para quem sofre de transtornos alimentares (como eu), esse tipo de anúncio pode ser triggering (um termo em inglês que melhor define a sensação de "engatilhar" sentimentos) e muitas vezes não se pode fugir desse tipo de apologia. 

No dia 1° de Outubro o site da revista Marie Claire publicou uma foto da modelo Izabel Goulart de biquíni acompanhada da expressão "Izabel se despede do Rio e mostra corpo perfeito". Choveram comentários negativos acusando a revista de apologia à anorexia, mas também chamando Izabel de feia, esquelética e outros termos horríveis. A revista se retratou e mudou o título da matéria para "fãs elogiam: corpo perfeito.". Mais uma vez, a culpa é nossa, não das grandes mídias, não das grandes indústrias, não dos detentores de poder. Óbvio. 

A responsabilidade social da Marie Claire foi nula: a postura de associar qualquer imagem com um ideal de corpo perfeito é irresponsável e nociva. Anorexia é a doença mental que mais mata no mundo inteiro, e é exatamente esse tipo de atitude que reforça padrões de beleza facistas e que faz com que esses dados se mantenham. A atitude de jogar a responsabilidade para os fãs de Izabel, pior ainda. A notícia não nasce num vácuo: ela possui um contexto social e uma realidade na qual se insere. Dizer que não foi a revista quem afirma que o corpo da modelo é perfeito não muda o fato de que, no site da Marie Claire, está escrito que Izabel Goulart tem o corpo perfeito. 

Em sua retratação a revista se diz a favor de um "padrão de beleza saudável". Não existe padrão de beleza saudável porque padrões machucam todas as mulheres, e nenhuma de nós é realmente livre enquanto a outra ainda estiver presa. 

Somos sempre convencidas de que podemos sempre ir além, e isso não é saudável. Não estamos autorizadas a simplesmente ser. Nenhuma de nós, nem mesmo Izabel Goulart. 

Se a moça é anoréxica, eu não sei. Mas se for, os comentários negativos a chamando de feia, esquelética, "pele e osso" ajudam ou pioram sua recuperação? Atacar alguém que apenas posou para uma foto é justo? São perguntas que devemos levantar antes de criticarmos as mulheres exploradas pela indústria da beleza. Não é minha intenção colocar Izabel como vítima de "magrofobia" ou nenhuma falsa simetria do tipo. Mas é possível (e é algo importantíssimo) aprender a acertar o alvo.

O alvo são os detentores de poder, as grandes revistas, as grandes empresas, as grandes corporações. Não as modelos, que muitas vezes sim são anoréxicas e bulímicas e sofrem muito dentro da profissão, onde aprendem que seu valor é sim medido pela aparência, e que elas nunca são boas o suficiente. Que elas nunca serão perfeitas, por mais que tenham - como é o caso de Izabel - vários fãs que pensem assim. 

Num dia desses uma moça que tinha adicionada no Facebook postou um print de uma das publicidades oferecendo meios para emagrecer: na foto, os joelhos marcados e vermelhos de uma mulher que acabara de ajoelhar em pedras, com algumas delas ainda grudadas na pele por causa da pressão. Talvez o Face escolha essas imagens aleatoriamente, não sei. Mas me pareceu simbólico: quantas mais vamos sacrificar?



sábado, 7 de setembro de 2013

Ah, a internet

Vou confessar que quando li em cartazes em manifestações "saímos do facebook", me senti de certa forma representada. Mesmo valorizando o ativismo de sofá e seu poder, sentia que minha vida escorria pelo ralo da internet.

Depois de mudar de casa e sentir o gostinho de viver no meu canto, em paz, com conforto e pessoas queridas, percebi que nem sempre o medo é uma placa de "pare". O medo pode ser medo de ser feliz, de sair da zona de conforto, de mudar pra melhor.

Então excluí o facebook. Sendo uma garota que não fica sem redes sociais desde os 12 anos, é algo grande para mim, e espero fazer bom uso desse novo tempo livre (que já era livre mas que usava da maneira errada).

Algo como atualizar o blog.

sábado, 11 de maio de 2013

Menos misoginia, mais amor e sororidade


Criticar o feminismo (e qualquer movimento social) é essencial para que ele cresça e seja cada vez mais inclusivo. Acredito que muitas vezes quando um movimento cai nas mídias e mais pessoas fazem parte dele, começa uma espécie de telefone sem fio.

O que me preocupa obviamente, além das pessoas feministas, são as pessoas que flertam com o feminismo, concordam com muitas das ideias mas não se dizem feministas por qualquer motivo que seja. Muitas vezes as mulheres que são desse time, são mulheres de personalidade forte, com muitas opiniões, que falam o que pensam. Muitas delas são adolescentes, jovens mulheres rockeiras, skatistas, punks, enfim. São mulheres fora dos padrões rígidos da mulher silenciosa, delicada, prendada e "feminina" na aparência.

Elas começam se identificando com discursos que enfatizam o quanto estão cansadas de se sentirem sozinhas, sem amigas, simplesmente por terem opiniões e não gostarem de maquiagem e assuntos ligados ao que o patriarcado chama de "universo feminino". São chamadas de lésbicas, sapatonas, são mulheres que precisam lavar uma louça e de um bom chá de pica. Elas buscam apoio nas mulheres mais dentro do padrão e estas estão mais preocupadas com namorados e um mito da beleza que as consome, a ponto de não conseguirem olhar por suas irmãs diferentes. Essas mulheres fora do padrão tem sua misoginia alimentada. E aí dizem o que muitas de nós um dia já dizemos:
  • Amizade com homens é muito melhor
  • Amizade com um homem vale mais do que com duas mulheres
  • Mulheres são fúteis (mas eu sou uma exceção)
  • Mulheres só querem saber de macho (enquanto eu penso em pizza, música, carreira etc)
  • Assunto de "mulherzinha"
A falta de sororidade (irmandade, companheirismo e união) entre mulheres culmina em misoginia e culpabilização da vítima. O que a mulher fora dos padrões de feminilidade não percebe é que do mesmo jeito que ela não tem culpa de ser chamada de nomes e ser tida como chata, a sua irmã não tem culpa de ser pressionada a ser essa "boneca" que faz o que homens querem ver. Ela não tem culpa de ceder a essa pressão, porque, como a própria mulher fora dos padrões sente na pele, não é fácil ser transgressora.

Assim, cria-se um mito de que a mulher estereotipada e dentro dos padrões é burra e fútil, quando ela é uma vítima do patriarcado, que a ensina (erroneamente) que ela precisa de um homem em sua vida, e que para isso ela precisa estar dentro dos padrões de beleza. E, hoje em dia, ela é ensinada que para que ela se sinta bem consigo mesma, mesmo estando solteira, ela também precisa estar dentro de determinados padrões de beleza e comportamento. Cria-se o mito de que para mulheres o "amor" é mais importante do que a amizade, então todas as outras mulheres são rivais que podem lhe tirar a chave para a felicidade (um homem).

Enquanto isso, a mulher fora dos padrões faz amizade com homens, supostamente "sem frescura", rindo das mulheres consideradas burras e superficiais, sem saber que, para seus amigos, ela é mulher, portanto, em algum momento, ela também será alvo dessa misoginia. Não cabemos em caixinhas de estereótipos e uma hora essa mulher demonstrará uma fraqueza, cometerá algum deslize. Seus amigos a chamarão de "mulherzinha". Vão perguntar se ela quebrou uma unha, vão tentar diminui-la por ser mulher. E ela vai se odiar e odiar ainda mais as outras.

Sem sororidade, mulheres aprendem a odiar umas as outras, sem perceber que estão sendo manipuladas pelo patriarcado.

Já passou da hora de lembrarmos que é possível ter opiniões e convicções fortes, ser inteligente e independente e, ainda assim, gostar de elementos associados ao feminino (como cabelo, maquiagem, moda etc). É simplista demais encaixotar mulheres em estereótipos limitadores. Não existe nada de errado em se identificar com esses estereótipos, mas sim esperar que mulheres estejam sempre cabendo em rótulos, quando são seres humanos complexos, contraditórios, mutáveis.

Um dos objetivos do(s) feminismo(s) é que todas as mulheres sejam livres para serem como quiserem (sempre tendo noção de todas as possibilidades que elas, como seres humanos, tem à sua frente, não só as que o patriarcado oferece). Desconstruir estereótipos de gênero não significa diminuir, humilhar ou desqualificar aquelas que estejam presas a eles.

Não é feminismo se você ri e julga sua irmã que está dentro de padrões patriarcais de comportamento. Não é feminismo se você aponta o dedo para mulheres e as chama de "fúteis". Não é feminismo se você julga e desvaloriza os sentimentos e experiências da sua irmã, porque ela não é como você.

Não é justo que só você seja livre. Liberte sua irmã. 


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Uma ideia que vem pra curar

Eis que o tal bloguinho surge. Passei muitos dias comentando que queria um blog pra chamar de meu, pra ter meu jeitinho, pra ter amizade, compartilhamento. Um senso de que sou do mundo, afinal. Falei falei e falei.

Numa madrugadazinha qualquer, no meio de uma conversa sobre estar perdida num mundo cheio (demais) de possibilidades, solto sem pensar para uma amiga: "vem fazer um blog comigo". A ideia inicial era ser um blog só de mulheres, mas passei os olhos pelo Inspiração de Bolso e não consegui deixar um certo rapaz pra lá. Decidimos o nome bem mais ou menos e, depois de uma madrugada tediosa tentando deixar o bloguinho bonito, surge esta leitura introdutória. Chata, talvez, mas necessária.

Sou toda mundo. Sou toda mistura. Não quero me prender a nada, e não me imaginaria trabalhando num blog que fosse só sobre moda, só sobre amor perdido, só sobre ativismo. Eu queria o mundo, e ai de mim se não conseguisse fazer o mundo em forma de postagem. E ainda tem os outros dois pra acresentar a seu modo, seja com histórias, seja com poesia, seja com uma dica de ondecomeramelhorcomidamexicanaveganadebh. Seja com o que quiserem, porque o espaço é de todxs nós e o que não falta é assunto.

O que queria quando criei esse blog com uma conta bem antiga do Blogger era ter um espaço em que eu pudesse ser útil com tudo de mim. Tenho estado sem sentido, sem rumo, e aqui dentro crescia um sentimento forte e ruim de que estava vazia pro resto. Mesmo sendo militante. Mesmo chorando com as notícias. Faltava alguma coisa, e eu não aceitei ser mais uma alma perdida seguindo com o fluxo.

Percebi que não estava sendo útil para mim mesma, e resolvi me cuidar. O primeiro passo, carxs amigxs, foi criar um espaço que eu pudesse olhar e dizer que tem dedo meu. Que tem letra minha. Que tem meu esforço, mesmo que seja numa coisa boba. Porque afinal, mesmo que seja boba, ainda é algo que quis fazer, então é válido.