quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Corpo perfeito pra gritar: CHEGA

Aqui ninguém fala mal de nenhum tipo de corpo.
Aqui todos os corpos são amados e celebrados.


Não é de hoje que vemos a indústria da beleza massacrar a autoestima das mulheres (de todas as mulheres, vejam bem) para vender. E, para minha surpresa, ela vai mais longe a cada dia.

Para desde a ponta dos pés até os fios dos cabelos, existe um produto que promete uma versão melhorada das mulheres e também adolescentes. Se seu gênero no Facebook está marcado como feminino, é comum ver anúncio de emagrecedores, "dicas estranhas", "métodos antigos" para perder peso. As imagens que ilustram essas publicidades vão desde vítimas reais de anorexia até ovos podres. 

Para quem sofre de transtornos alimentares (como eu), esse tipo de anúncio pode ser triggering (um termo em inglês que melhor define a sensação de "engatilhar" sentimentos) e muitas vezes não se pode fugir desse tipo de apologia. 

No dia 1° de Outubro o site da revista Marie Claire publicou uma foto da modelo Izabel Goulart de biquíni acompanhada da expressão "Izabel se despede do Rio e mostra corpo perfeito". Choveram comentários negativos acusando a revista de apologia à anorexia, mas também chamando Izabel de feia, esquelética e outros termos horríveis. A revista se retratou e mudou o título da matéria para "fãs elogiam: corpo perfeito.". Mais uma vez, a culpa é nossa, não das grandes mídias, não das grandes indústrias, não dos detentores de poder. Óbvio. 

A responsabilidade social da Marie Claire foi nula: a postura de associar qualquer imagem com um ideal de corpo perfeito é irresponsável e nociva. Anorexia é a doença mental que mais mata no mundo inteiro, e é exatamente esse tipo de atitude que reforça padrões de beleza facistas e que faz com que esses dados se mantenham. A atitude de jogar a responsabilidade para os fãs de Izabel, pior ainda. A notícia não nasce num vácuo: ela possui um contexto social e uma realidade na qual se insere. Dizer que não foi a revista quem afirma que o corpo da modelo é perfeito não muda o fato de que, no site da Marie Claire, está escrito que Izabel Goulart tem o corpo perfeito. 

Em sua retratação a revista se diz a favor de um "padrão de beleza saudável". Não existe padrão de beleza saudável porque padrões machucam todas as mulheres, e nenhuma de nós é realmente livre enquanto a outra ainda estiver presa. 

Somos sempre convencidas de que podemos sempre ir além, e isso não é saudável. Não estamos autorizadas a simplesmente ser. Nenhuma de nós, nem mesmo Izabel Goulart. 

Se a moça é anoréxica, eu não sei. Mas se for, os comentários negativos a chamando de feia, esquelética, "pele e osso" ajudam ou pioram sua recuperação? Atacar alguém que apenas posou para uma foto é justo? São perguntas que devemos levantar antes de criticarmos as mulheres exploradas pela indústria da beleza. Não é minha intenção colocar Izabel como vítima de "magrofobia" ou nenhuma falsa simetria do tipo. Mas é possível (e é algo importantíssimo) aprender a acertar o alvo.

O alvo são os detentores de poder, as grandes revistas, as grandes empresas, as grandes corporações. Não as modelos, que muitas vezes sim são anoréxicas e bulímicas e sofrem muito dentro da profissão, onde aprendem que seu valor é sim medido pela aparência, e que elas nunca são boas o suficiente. Que elas nunca serão perfeitas, por mais que tenham - como é o caso de Izabel - vários fãs que pensem assim. 

Num dia desses uma moça que tinha adicionada no Facebook postou um print de uma das publicidades oferecendo meios para emagrecer: na foto, os joelhos marcados e vermelhos de uma mulher que acabara de ajoelhar em pedras, com algumas delas ainda grudadas na pele por causa da pressão. Talvez o Face escolha essas imagens aleatoriamente, não sei. Mas me pareceu simbólico: quantas mais vamos sacrificar?



Um comentário:

  1. Gostei bastante do texto! Você arrasa demais quando escreve!

    Eu acho tão triste quando ofendem as mulheres magras nesses casos porque simplesmente isso é só mais uma forma de culpar as mulheres, sabe? Por que atacamos mulheres ao invés de atacarmos as grandes revistas? É porque a gente foi ensinada a rivalizar com outras mulheres e a sociedade ensinou a todos que mulheres estão ali para que a gente possa culpá-las, apontar dedos e também avaliá-las como pedaços de carne.

    ResponderExcluir