segunda-feira, 21 de abril de 2014
As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides
Uma história de fim óbvio, não só pelo título, mas pelo peso de seu tema. Jeffrey Eugenides caminha por uma escrita impecável, suave e feminina dentro de uma temática densa demais para meninas tão jovens e privilegiadas.
Virgens Suicidas se passa num subúrbio americano típico: famílias brancas de classe média alta, cristãs e vivendo o Sonho Americano: um carro grande, uma boa casa, filhos saudáveis. No entanto, o pecado das meninas Lisbon é serem quem são: rachaduras no sistema, no seio da família tradiconal, no amor que os pais juram ter dado.
Como narra Eugenides, Cecília foi a primeira a ir. Não na primeira, mas na sua segunda tentativa, e sua dor era ser: quando um médico questiona o suicídio de uma jovem tão bonita, ela aponta o óbvio: "Obviamente doutor, o senhor nunca foi uma menina de 13 anos.".
Embora durante a narrativa fique claro que as cinco meninas Lisbon viviam sob um teto conservador e bastante limitado para jovens de sua época, elas não são maltratadas. Aqueles são os retratos de muitas de nós mulheres que crescemos ouvindo que querer um batom ou desejar um garoto era sujo, e que nós arderíamos no inferno caso quebrássemos a regra. O feminino era nossa prisão, um "caos feminino" inutilmente controlado por pais inseguros, em que ser mulher era um mundo de absorventes, laços cor de rosa e infantilização.
Embora adolescentes, as meninas Lisbon eram frequentemente tratadas como crianças (até mesmo pelos narradores, admiradores das suicidas), sem poder expressar qualquer traço de estarem atingindo a vida adulta, sem o direito de serem adolescentes que eram: seus hormônios e a vontade de serem desejadas por homens era mascarada por debaixo de vestidos feios demais e infinitas regras. A mãe que protege as filhas porque sabe que o mundo é cruel com as mulheres que andam fora da linha.
Após a morte de Cecília, os vizinhos dos Lisbon se questionam o que fez com que a menina se jogasse da janela do seu quarto. As hipóteses são várias, mas decidem por retirar a cerca na qual a menina de 12 anos havia se empalado, como se acostumaram os adultos a resolver problemas que não são sólidos.
Uma das meninas é alvo de maior atenção no livro, Lux. Aos 14 anos após a morte de Cecília e uma desilusão amorosa, Luz se envolve num ritual que, inicialmente, soa poético: os narradores a observam fazendo sexo no telhado da sua casa, fumando e quebrando as regras mais preciosas de sua família somente com o céu (e os garotos) como testemunha. Logo fica claro que esse era seu bilhete de suicídio, um ciclo de auto-destruição em que Lux sequer tirava algum prazer sexual de seus encontros noturnos, mecânicos e frequentemente unilaterais.
Depois dos pais desistirem de cuidar da casa, ou das meninas, os Lisbon e sua propriedade tornam-se a imagem de um sistema que falhou: uma mancha suja numa vizinhança perfeita, denunciando seja lá o que for que havia de podre ali.
O final da história era iminente: depois de censuradas, isoladas e de luto pela morte de uma das irmãs, as meninas Lisbon contatam seus admiradores por saber que eles as compreediam e, mais importante ainda, as amavam assim como eram, sedentas, ambiciosas e imperfeitas. As meninas não se despedem de ninguém, convidam os rapazes para levá-las para longe e, de certa forma, são mesmo eles quem as conduzem na viagem que as distanciaria da vida sufocante que viviam antes.
O romance de Jeffrey Eugenides traz a reflexão de uma juventude feminina deprimida e castrada. As virgens suicidas não são virgens no sentido sexual, mas virgens para a vida e suas belezas. O que as meninas Lisbon conheceram de bom se limitava na vida familiar e nas pequenas coisas compartilhadas por irmãs que se amam, e tão cedo perceberam que isso não era suficiente e que não poderiam esperar para ver se esse cenário mudaria. As virgens suicidas são todas as mulheres, cada uma de nós que oscila entre a inocência para mundo e a dor de sermos limitadas.
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